sábado, 26 de janeiro de 2008

contos e cantos de mim mesma...

Era uma vez um boneco,um pai-marceneiro,uma fada e as peraltices do garoto-boneco...
Mais uma das tantas estórias que me emocionavam na infância:Pinóquio!!!
Estes dias, estava eu comentando com um novo velho amigo ,sobre um certo menino-crescido,que temia eu, que já não quisesse mais ser menino,apenas crescido...e em uma dessas coincidências que nos fazer crer em algo maior que o vislumbrável,esse homem que tanto admiro em sua eterna infância, se intitulou de “meu menino”,sem saber que assim eu tinha me referido a ele mesmo, horas antes, em conversa com o amigo em comum;enfim,essa volta às meninices e à verdade que se encerra nessa infância eterna (que todos deveríamos respeitar e cultivar, como um precioso jardim em nossos corações)remeteu-me ao menino- boneco que queria ser menino-homem e a seu pai, que tanto queria um filho de verdade...
Pinóquio,Gepeto ,a fada e tudo o que circundava essa estória tão linda, que permeou minha mais tenra idade,agora também me faz refletir acerca do “meu” menino e da menina que também sou e serei para sempre,independente do que disser a cronologia;
Pensei em como sofria o boneco de madeira por querer ser menino de verdade e pensei também, como sofremos nós todos, por nem sempre termos nas mãos o rumo da nossa própria história...quantas e quantas vezes não fomos surpreendidos pelo nosso próprio engessamento frente as coisas da vida...quantas vezes você não se sentiu um boneco de madeira ,incapaz de sentir,ou de reagir e lutar contra o que lhe infringia a alma?
Penso que, quando nos dispomos a deixar cair a máscara, que ora nos protege,ora nos isola,somos abençoado por uma varinha de condão, como a da fada do conto do Pinóquio. Aprendemos, só aí, a chorar, a sentir, a amar de verdade; é como se a primeira lágrima que rolasse pela face despida de preconceitos, transformasse nossa carapaça de madeira em carne e osso.E então,para orgulho do nosso pai-marceneiro,seríamos meninos e meninas de verdade,de carne ,osso,lágrimas e sorrisos...coração a bater no peito e peraltices a cometer!
Mas voltando ao meu menino... Pensei tanto em como admiro quem se guarda na ingenuidade da sua criança interna;quem se respeita e por conseguinte respeita s aos outros; pensei em quanto o olhar simples, sobre as coisas vis do mundo, as pode transformar em algo melhor... Pensei em como meu menino-crescido tem esse olhar... Como seu altruísmo é uma lição a Gepetos, fadas e bonecos que querem ser meninos.
Ora, ora... Não faço aqui uma apologia desenfreada ao complexo de Peter-pan, como podem crer os leitores casuais desse derrame de alma, apenas confesso meu apreço por todo aquele que tem coragem (sim, porque é preciso ter coragem para isso!)de ser criança.Haja visto que, a criança de quem falo ,é apenas aquele ser humano que tem o dom de preservar dentro de si, o que só a infância nos dá:a verdade indissolúvel,a alegria impoluta,a fidelidade a si mesmo.
Aprendamos então com as crianças, a voltarmos a ser crianças, aprendamos a viajar pelas 20.000 léguas para dentro de nós mesmos, apenas com a predisposição de fazer cair por terra as convicções arraigadas sobre quem e como deveríamos ser_ Quem sabe então, nosso nariz não crescesse ao contarmos alguma mentira, ao invés de nos transformarmos em um monte de seres de fachada, como acontece a cada mentira contada?Quem sabe por um milagre ou por um feitiço de fada, não nos transformaríamos mais no que gostaríamos de ser e menos no que querem que sejamos?
Como diz a canção João e Maria de Chico Buarque :“no tempo da maldade acho que agente nem era nascido”...e que assim tivesse sido,e que assim seja!
Peter-pan,Pinóquio ou apenas um homem...feliz daquele que preserva sua essência independente das vicissitudes do acaso,das intempéries da vida!
Obrigada Luiz,meu menino crescido, pela lição do que é manter na alma a criança viva ...
Obrigada por me ensinar que os patos ,o lago ou a chuva,dizem mais sobre nós mesmos ,que qualquer julgamento alheio...

Um comentário:

Luiz Orlandini disse...

Hoje de manhã estava na cozinha com meu pai marceneiro enquanto nos servíamos de café; ele colocou dois copos com açúcar, prontos para receber o café, enquanto eu esquentava uma caneca de leite, e então perguntou então se eu iria tomar café preto ou com leite. E eu disse "- com leite, mas pode colocar aí nesse copo, que já está com açúcar, que depois eu despejo nessa caneca de leite". Eu iria preparar meu próprio café, mas ao vê-lo preparando dois, achei que um era para mim. E ele disse "- não cara, esse não é pra você, esse é para o meu pai... prepara outro pra você!" e então demos risada, pois até então eu nem tinha me lembrado que todos os dias meu pai prepara dois cafés: um para ele, e outro para meu finado avô, que ele coloca à janela, junto com um cigarro aceso... me emocionei. Pensei nesse texto e pensei que somos todos filhos e pais, ao mesmo tempo; não seria realmente uma atitude quase infantil dedicar algo ao pai que não está mais entre os mortais? Uma atitude de filho que espera o Natal, que sonha com o dia que vai ser crescido para poder construir o seu próprio Pinóquio! Todos nós temos dentro de nós um pouco desse sentimento, de às vezes querer ser o que não nos foi concedido, e poucos conseguem de fato se tornar algo maior. Tantas coisas que nos colocam dentro de nossas cabecinhas mortais que nem nos demos conta que tanto o real como o imaginário produzem os mesmos efeitos... e agora eu é que digo, não faço apologia à satisfação virtual, não quero que vivamos apenas de sonhos, mas há que se perceber que às vezes seremos apenas bonecos de madeira, mas mesmo esses serão dotados de sentimentos, de expectativas, de esperança num futuro promissor de felicidade. Pinóquios também crescem, envelhecem e morrem, e o que acontece no meio do caminho, é uma verdadeira seleção de opções: algumas farão nossos narizes crescer, outras nos levarão a mundos falsos de casas de doces, algumas poderão até mesmo colocar em risco nossas Marias e Joãos, mas em todas as opções deve haver uma fada que nos mostrará como ser pai e como ser filho, como respeitar os dsígnios da vida, como reconhecer nossas bailarinas de papel em meio a tantas santas falsas (oh! lame saint) e como ser um soldado de chumbo mais verdadeiro, mesmo que às vezes uma perna a mais faça falta... Obrigado anjo, por me fazer sentir tantos sentimentos ao mesmo tempo! Você não faz idéia o quanto sentir tudo isso me aproxima de você! Te adoro hoje mais do que sempre, e se Deus quiser, menos do que amanhã...