quarta-feira, 20 de agosto de 2008

VIDA EMPRESTADA

...e de repente aquela sensação...
vivo uma vida emprestada,com sonhos,amores e desventuras emprestados.
Minha casa,meu trabalho,meus amigos,minha família:nada é meu!E nada é meu,não pelo sentido libertário da coisa, mas por simplesmente eu não ter ,de uma hora para outra, mais identificação com coisa alguma.
A sensação que tive,é que o "eu " consciência,se apoderou de um corpo só para ter uma existência material e que perdeu sua essência nessa contaminação mundana do eu-matéria.
Essa torturante certeza de que até o ar que respiro me foi ,por caridade, cedido temporariamente,é claustrofóbica!
Vive meu corpo não pela minha própria força,mas pelo tomar emprestado de outrém,que frente ao espelho se parece muito com o que dizem ser Eu!
O fato é:eu tomei uma vida emprestada,talvez incida aí a anti-força dos meus desejos, a fraqueza de minhas utopias.
A falta de planos em si,hoje eu vejo, pode denotar um resquício de consciência da vida que cooptei,o que me impediria então, de traçar metas e me apoderar delas como sendo realmente minhas, afinal, já foram de outro alguém.São metas inatingíveis a um corpo sem alma ou a uma alma sem couraça.
Se sou assassina,ladra ou apenas tomadora de empréstimo de vidas alheias ,eu não sei,apenas sei que me perdi em meio a essas conjecturas.
Penso que seja a completa não aceitação de meu status quo,é a completa não aceitação de fracassos, que não reconhecia tão imensos, na pessoa que eu julgava ser eu!
Certezas?nenhuma...mas imagino que quem aqui escreve, não seja Eu!

(relato de um momentinho non sense ocorrido por esses dias)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A GAVETA E O TEMPO

Cuidado com tuas relíquias, teus fatos e retratos acomodados no tempo
Cuidado com o excesso de zêlo com uma lembranças apenas, que leva ao esquecimento do calor do contato
Cuidado com as poucas horas que tem reservado para as coisas que realmente valem algo em sua vida.
Quando se acomoda as coisas no tempo, muito sentimento também vira pó,muito sentimento também vira uma foto velha e amarelada,esquecida num canto qualquer
O tempo é senhor dos enganos, mas muito tempo é subterfúgio de covardes...
Já dizia a canção que todo amor dorme numa gaveta, numa sala escura...às vezes os amores precisam de ar fresco e uma dose exógena de renovação,coisa que as gavetas não lhes proporcionam...o cuidado é vizinho do aprisionamento.São apenas diferentes proporções que se aplicam e em geral,estão aí todos os pecados mimetizados.
Sempre gostei de dizer que as pessoas queridas eu guardo dentro de uma caixinha azul...mas nunca tive intenção de deixá-las lá, intocadas...só as quero acessíveis, e as coloco dentro de uma caixa azul, para que o tempo também não as leve num amarelamento qualquer,feito o que faz com papéis velhos...tornando-os ilegíveis.Contraditório poderia parecer, isso se eu não as permitisse respirar...serai contraditório se essa caixinha azul não fosse a mais nobre parte do meu plebeu coração.
Quero ler meus amores e meus amigos mil vezes, protegidos pelo azul do sonho acalentado,quero rememorar mil abraços nessa caixa que não se acomodou no tempo.
De um livro acomodado no tempo,pode até se retirar a poeira, mas e de uma pessoa?
Uma pessoa pode ser recoberta pela poeira da dor, do esquecimento e do desprezo e nunca mais voltar de lá...pessoas não se desfazem fácil do amarelamnto imposto pelo tempo...há inclusive quem nunca mais se refaça dele,pois acabam por preferir a solidão ao descaso,a poeira ao frescor da conveniência.
A poeira que encobre pessoas, encobre a elas e a quem as perdeu no tempo..encobre sonhos, encobre desejos,encobre planos...encobre vidas.
Nem a saudade se acomoda no tempo, dá mil e uma voltas para voltar ao mesmo lugar sempre renovada, sempre disposta,sempre salutar..em seu movimento está o segredo do não acúmulo de poeira,em seu contínuo movimento está a sua força.
Por isso digo a mim mesma:cuidado, almejar companhia de pessoas quando já se tornaram lembrança, pode ser mais dolorido que simplesmente soprar o pó!
Bom seria guardar o tempo numa gaveta, ou não...