domingo, 1 de junho de 2008

RETICÊNCIAS EM UM MUSEU

Fugindo de mim mesma;
Sei bem das confusões que a noite traz...
Imagine alguém precisando tirar férias de si mesma...Imagine alguém que não se reconhece em algumas as suas próprias atitudes?!Agora imagine tudo isso dentro de um coração afoito, sedento de respostas que não é capaz de achar em si mesmo... Pois bem... Esse alguém sou eu!
Imagine alguém confusa; imagine alguém que não consegue dar voz ao próprio coração: essa sou eu... E só numas dessas muitas noites de insônia como a de hoje, que isso toma proporções inimaginavelmente cruéis...é como se o sono me desse um salvo conduto (ledo engano)Como que se de olhos fechados eu não existisse,ou ao menos eu não me visse...mas me vejo;sofro das mesmas angústias dormindo ou acordada...os dissabores são os mesmos,

Os caminhos se estreitam unicamente pelas escolhas que fiz; certas ou erradas foram minhas e de ninguém mais e é aí que dói... Não dá para me eximir de uma culpa que é só minha; não há quem culpar além de mim pelos atropelos em minha vida.
Hoje eu não me reconheço em meu corpo,em minha mente, em meu coração;deixei de lado meu corpo e não gosto do que vejo,minha mente deixou de privilegiar muito do que me era vital e meu coração, esse eu subjuguei há tempos...

Eu já não caibo em mim... E não e por ter alma grandiosa... É sim porque agora me perco nos espaços vazios que eu tenho deixado acumulando poeira em mim...
O mundo que eu conheço hoje é um museu na madrugada fria, cheio de pedaços do passado,alocados numa arquitetura própria,mas proibido a visitação...é assim que me sinto...um museu de madrugada...às vezes quero implodí-lo,às vezes lacrá-lo!

Falam-me de anjos e fadas... Eu falava com anjos... Eu pedia benção às fadas... Agora ambos são peças de decoração em minha estante, pois também não sobrou espaço para eles em meu museu de madrugada... lá só cabem lembranças intocáveis,poeira, eco e medo da escuridão.

Essa é toda a paz que eu conheço: esse eterno reverberar de desumanidades...minhas desumanidades,que ecoam dissonantes no vácuo que eu deixei crescer internamente.
Unhas vermelhas feito sangue para inspirar alguma dor...olhos de água que de tão desconcertados com o que vêem não tem mesmo cor...onde está a gama de nuances para a vida que eu criei ?

Eu construí um castelo...agora estou presa nele!

Chega de clichês, chega de falsas expectativas...a hora é sim de chão, de luto por mim mesma,de luto pela morte de boa parte das coisas que acredito...estou na lama esperando que ela seque, esperando que vire pó e que desse pó ressurja algo em mim mais que uma sombra.Seria isso a tal da esperança?

Já não sou capaz de sonhar,são os pesadelos que ditam o ritmo da poucas horas de sono...já não sou capaz de pensar em alguém...o egoísmo e o auto-encarceramento me impedem de me doar.

E quem disse que não se pode desistir por um tempo de si mesmo?

Preciso ver nisso tudo alguma lição...algo que me compense por essas noites em claro,nada benevolentes com meu coração;

Mas ainda corro o risco de não correr risco algum...aqui,enjaulada em meus temores e frustrações nada me aflige...e nada poderia ser também mais insípido.

Quero pedir ajuda, mas não tenho voz,e meus braços não alcançam ninguém...aqui no fundo, no subsolo desse museu frio,ninguém vai me achar .

Eu ouço o que me convém nesse escuro e agora só me convém o silêncio...
Que seja então esse silêncio minha canção de ninar... E que quando eu acordar, que os anjos e fadas tenham voltado...
Que o sol esteja brilhando forte e que meus olhos suportem o brilho...

então as portas e janelas de meu museu serão abertas...ou não!